23.8.16



UMA LÁGRIMA PARA GENETON - Muito triste com a morte do querido Geneton Moraes Neto, amigo desde os tempos de adolescente. Ele foi meu primeiro ídolo no jornalismo. Ainda menino eu lia a coluna que ele publicava no suplemento infanto-juvenil do Diário de Pernambuco, chamado Júnior. Só mais tarde, aos dezesseis anos, o conheci pessoalmente. A gente frequentava a mesma turma de estudantes de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Naquele tempo ele já era um líder, fazia filmes de Super-8, e tinha ideias muito pessoais e inteligentes sobre o que era o jornalismo. Ano passado nós estivemos bem próximos durante o Festival do Rio, onde ele lançou seu documentário "Cordilheiras no Mar". Estava muito feliz com a realização do filme, que tinha como tema um de seus ídolos, o cineasta Glauber Rocha. Foi em outubro do ano passado. E agora, ao saber da sua morte,  só penso como foi bom ter estado com ele, conversado com ele e testemunhado sua felicidade diante de uma realização artística. 

Descanse em paz, querido amigo!






UMA HOMENAGEM MERECIDA - Ali Kamel, editor chefe do jornalismo da Rede Globo, escreveu um texto sobre o colega Geneton Moraes Neto. Leia a seguir.


Geneton foi um guerreiro. Todos nós acreditamos que ele venceria essa batalha. Foram muitos dias. Chegou a melhorar. Carinhosamente, ainda com ele no hospital, me mandou alguns poucos e-mails em que falava, claro, de sua paixão, o jornalismo. Estava confiante e isso foi um sopro de alegria para mim. Não deu, e ele nos deixou. Dá em todos nós aquele nó na garganta, a gente chora. Todos nós que tivemos o privilégio de conviver com ele sabemos que ele era, de fato, especial. Um gênio do jornalismo, mas sem nenhum estrelismo. A voz doce, cantada com aquele delicioso sotaque pernambucano que, graças a Deus, jamais perdeu. Não só a voz, mas o jeito, a postura. Tudo em Geneton era doce, gentil, amável. Mesmo quando zangado, porque alguma reportagem não saía como ele queria ou porque um projeto não era aprovado. Ele era firme, dizia o que pensava, mas era doce. Poucas vezes vi alguém tão fascinado pelo nosso ofício. Não tinha vaidade, tinha vontade de descobrir e revelar. Não media esforços para isso. Era capaz de pedir longas licenças não remuneradas, juntar com férias vencidas, para... trabalhar num livro. Fazia com prazer. E era impossível recusar. Eu o conheci no Globo, onde trabalhou como correspondente em Londres. Quando me encontrava, reclamava, doce mas firmemente, dos cortes que, para ele, cioso do seu trabalho, amputavam as suas matérias. Reencontrei-o aqui. Ele já estava no Fantástico, sempre inquieto, sempre procurando coisas novas. Vou sentir falta de nossos encontros. Homem do papel, se fez um homem de televisão. Sem dificuldade. Na TV, foi da 'cozinha' do jornalismo, mas logo enfrentou as câmeras, e, desafiando todos os estereótipos, transformou-se num entrevistador magnífico. Com perguntas certas, firmes, mas feitas sempre daquele jeito sem agressividade. Diante dos que perdiam a paciência, ele insistia, firme, mas doce. Sabem, não foram poucas as vezes que recebi pedidos de pessoas querendo ser entrevistadas por ele. Porque sabiam que a entrevista poderia ser difícil, mas seria bem feita, e os entrevistados sonhavam com uma repercussão que revelasse as suas verdades. Eu sempre respondi que não, eu não sugeria entrevistados a ele. Geneton os escolhia. A única exceção foi a última entrevista, aquela que ele não fez. Fernando Pedreira, esse grande jornalista, tinha acabado de lançar suas memórias. Fernando e Geneton se admiravam. Ninguém me pediu nada, mas quando soube do livro pensei logo no Geneton. Sugeri a ele, que aceitou na hora. Alguns dias se passaram até que a entrevista pudesse ser marcada. Tempo suficiente para Geneton ler o livro e adorar. Na véspera da entrevista, caiu doente. A entrevista parecia apenas adiada, mas ele nunca pôde fazê-la. No fundo, não importa. Geneton fez tantas e tão boas entrevistas, fez tantas e tão boas reportagens, fez tantos e tão bons livros, que temos um material de excelência para rever. Vamos sentir é a falta dele, da doçura dele, da paixão dele. Geneton foi um grande repórter, um grande colega, um grande amigo. Será sempre uma referência, para nós, para nós, jornalistas, que vivemos de descobrir e revelar. Presto aqui essa homenagem a ele e me solidarizo à família dele. E vamos honrar o legado que nos deixou.

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