30.11.10




CIDADE NUA - O Rio de Janeiro viveu momentos de terror nas últimas semanas. Uma verdadeira guerra civil na Cidade Maravilhosa. Claro que, para quem vive em Ipanema, o "paraíso continua sendo aqui". A zona sul bombou de festas, agitos e alegria, enquanto além do túnel Rebouças "o bicho estava pegando", como se diz na gíria. Um sol de verão lotou as praias e uma alegria inevitável surgiu estampada no semblante dos cariocas. Claro que houve solidariedade com aqueles que vivem no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. Claro que houve solidariedade com os (bons) policiais que estavam em ação nesses lugares. Claro que houve uma torcida pelos Militares que entraram em cena para dar um basta no atrevimento dos bandidos. Mas, independente disso havia a água fresca do mar, a vibração com o jogo de Fluminense, um pôr do sol inacreditável. E pagodes, festas, churrascos nas calçadas e tudo o mais que o carioca tanto aprecia.


Eu, como sou um sujeito de sorte, vi três rapazes despirem suas sungas e mergulhar na praia de Ipanema completamente nus. Isso foi exatamente quando acabou o jogo do Fluminense, que venceu o Palmeiras de virada. Os meninos lindos eram da torcida tricolor e decidiram comemorar a vitória mergulhando nus, deixando ainda mais abrasador o pôr do sol de Ipanema. Na água eles pareciam três golfinhos, mergulhando sobre as ondas, exibindo seus traseiros e todo o resto, girando as sungas na mão, enquanto gritavam como loucos: Somos campeões! Somos campeões! Somos campeões!


Agora me responda sinceramente: o Rio de Janeiro não continua lindo?


E por falar em rapazes nus, Fred, o principal jogador do Fluminense posou (quase) nu para a coluna Retratos da Vida, do Jornal EXTRA. Semana passada encontrei o Fred na Praia de Ipanema e, claro, fui falar com ele. Simpático, sorriso acolhedor, pernas incríveis e uma bunda que me deixou com água na boca. Tive o previlégio de vê-lo pessoalmente só de sunga. Não digo que sou um cara de sorte?


No fim de semana ensolarado, que coincidiu com o auge da Guerra Civil, também houve tensão na zona sul. Vimos carros da polícia à toda velocidade, sirenes ligadas, registrando que havia problemas de segurança em vários pontos da cidade. Vi um camburão parar uma moto em Copacabana de um jeito um tanto quanto sensacionalista. Revistaram o motoqueiro, armas apontadas para todos os lados, mas depois liberaram o rapaz, já que não havia nada contra ele. Mas deu para perceber o quanto os policiais estavam tensos.


Eu e dois amigos também fomos abordados pela polícia. Estávamos conversando parados perto da Praça General Osório quando um carro da polícia estacionou ao nosso lado e dois policiais nos abordaram de modo rude e grosseiro. Meu amigo Wallace perguntou se eles queriam revistar sua bolsa e o tira nervosinho respondeu: "cala a boca, você só fala quando eu te perguntar alguma coisa". Quando o sujeito pediu meus documentos eu mostrei minha identificação de Jornalista, logo eles mudaram de tom e foram embora. A polícia morre de medo de jornalistas. Apesar de entender a situação da cidade, achei absurdo o modo grosseiro com que os policiais nos abordaram e resolvi reagir. Pelo número da patrulha, descobri que os policiais pertenciam a UPP do Cantagalo. Chegando em casa liguei para a UPP e fui super bem atendido pelo Sargento de plantão. Expliquei o que tinha acontecido, disse que os soldados haviam sidos grosseiros comigo e com meus amigos e gostaria que eles fossem chamados à atenção. "Você pode me descrever os policiais?", me perguntou o Sargento. "Eram lindos!", respondi eu, sem medo de ser feliz. "Lindos e jovens. Pena que eram mal educados", disse. Depois de mais de meia hora de conversa, o Sargento me disse para ficar tranquilo, que ele já tinha como identificar os policiais e que eles iam ser chamados à atenção. Depois me convidou para conhecer a UPP, no alto da favela do Cantagalo. "Suba aqui pra conhecer a nossa UPP, ver um pouco do nosso trabalho. Esteja certo que você será muito bem recebido". É claro que eu vou pegar aquele elevador chiquérrimo em frente a Rua Teixeira de Melo e vou conhecer a UPP do Cantagalo. Achei o Sargento um fofo.


Ainda sobre a Guerra Civil carioca: foi lindo ver a população aplaudindo a chegada das Forças Armadas na área de guerra da cidade. Os Militares já deviam estar há muito tempo participando da segurança pública no Rio e em outras grandes cidades do Brasil. Mas o Sérgio Cabral nunca quis o Exército nas ruas. Ele é traumatizado por que seu pai foi preso durante o Governo Militar e por isso ele odeia os Militares. Algum assessor podia sugerir ao Cabral fazer umas sessões de psicanálise com o Paulo Próspero, para ver se ele supera esse trauma de infância. Atualmente ele é o Governador do Rio e a população do estado, em especial a segurança pública, não podem ficar reféns dos seus traumas de infância.


Adoro os Militares. As fotos desse blog dizem tudo sobre esse meu fetiche.


Nada abala minha paixão pelos militares. Nem mesmo o caso do Sargento do Exército que deu um tiro num rapaz, incomodado por que ele estava dando pinta no Parque Garota de Ipanema, ao lado do Forte de Copacabana. Tudo isso no dia da Parada Gay, o que mostra como a festiva parada deixou essa bicha enrustida nervosa. Pois vamos falar a verdade: um sujeito que agride um homossexual da forma como ele agrediu tem toda a patologia da bicha atormentada, aquela que não quer revelar seus segredos nem para seu próprio espelho. O sujeito que é machão de verdade, em geral, é generoso e paciente com os gays.


Falo do caso do Sargento que atirou na Biba só pra contar uma coisa aos meus queridos leitores: conheço um Militar maravilhoso que serve no Forte de Copacabana. É um sujeito muito legal. Bonito, gente boa, inteligente. Pois bem! Nesse último fim de semana ensolarado e agitado eu o encontrei no Veloso, o badalado bar do Lebon. "Tava doido pra te encontrar e comentar contigo o caso do Sargento que atirou no rapaz da Parada Gay", me disse ele com um sorriso malicioso. "Que cara covarde, jogou o nome do Exército na lama. Lá no quartel tá todo mundo puto com ele", continuou falando com seu jeito aparentemente rude, mas que na verdade esconde um sujeito sensível e humano. Ele também me contou que o tal Sargento já era detestado no quartel muito antes da confusão. "Ele sempre foi esquisito. Tremendo puxa-saco dos superiores. Mas gostava de humilhar e constranger os inferiores. Os cabos e soldados do Forte de Copacabana estão adorando que ele agora tá preso.


Ri melhor quem ri por último!

23.11.10

O fraco jamais perdoa, o perdão é uma característica do forte.



SOU TRICOLOR DE CORAÇÃO – Será que a gente vai ser campeão esse ano? Essa pergunta tem tirado o sono da imensa torcida tricolor. O Fluminense tem feito uma bela campanha no Campeonato Brasileiro de 2010 e merece o troféu. Mas, até o último jogo, a tensão e a ansiedade vão marcar presença entre os torcedores. É uma pena que o Maracanã está fechado para obras. Por outro lado, assistir a um jogo de futebol num bar ou botequim, tomando cerveja com os amigos, pode ser algo tão vibrante e sensacional quanto assistir a uma partida na arquibancada do Maracanã. Atualmente, com o boom das TV´s de plasma, quase todos os bares tem boas televisões que ficam ligadas nos canais dedicados a programação esportiva.


Copacabana tem os melhores botequins para quem gosta de assistir aos jogos do seu time favorito enchendo a cara. É que Copa, por causa de seus times de praia, tem uma forte cultura de futebol. Os jogadores e suas torcidas tem seus bares favoritos. Aliás, muitos bares funcionam como sede social dos times. Por exemplo, o bar Pavão Azul, na Rua Duvivier, é a sede social do Copacabana Praia Clube. Já o Bar do Bruninho, na Figueiredo Magalhães, é a sede social do Racing, o aguerrido time patrocinado pelo ator Alexandre Sherman. Outro botequim que merece destaque é o Chega Mais, um lugar muito simpático, que os cariocas apelidaram de Cheira Mais. Nos dias de grandes jogos o lugar fica parecendo um pedaço da arquibancada do Maracanã. Tem um ambiente vibrante, frenético.


O Real Chope, que os íntimos só chamam de Bar do Afonso, é um lugar adorável para quem quer assistir a uma boa partida de futebol bebendo um chope e degustando pastéis e croquetes, hits da casa. Apesar de ser um reduto de flamenguistas, torcedores de qualquer camisa são bem chegados. Tem uma freqüência de gente bonita, rapazes e moças das redondezas, que usam o bar como ponto de encontro, antes de esticar a noite em boates e festinhas. Já o Mud Bug é mais sofisticado. Fica na Rua Paula Feitas, na mesma quadra do Bar do Afonso. É um pub charmoso, que tem uma série de telas de TV voltadas para a rua. Sempre fica vibrante quando tem jogos de futebol. Mas o lugar pega fogo mesmo nos dias de jogos do Fluminense, já que o lugar é um reduto da torcida tricolor, que costuma fazer um carnaval a cada vitória do nosso time.


Aliás, a Rua Paula Freitas é o lugar mais chique de Copacabana. É uma rua arborizada, com árvores frondosas, que dão ao lugar um eterno clima de outono. Seus prédios antigos, trazem o requinte de uma arquitetura anos 50/60. Tem bares e botequins bem frequentados. Mas o “toque de classe” da rua é dado pelo seu time de futebol de praia, o Paula Freitas Futebol Clube. É o único time de Copacabana que tem o mesmo nome da rua que representa. O selecionado da Paula Freitas joga um futebol elegante e aguerrido, com seus craques bonitões e cheios de estilo. É através do seu time de futebol que a rua movimenta sua vida social. Os jogos sempre reúnem uma torcida animada, assim como os eventos organizados pelo time, como os churrascos, as festas e as noitadas nos bares da região. É uma rua que tem uma história com sabor bem carioca. Nos anos 60 e 70 as turmas da Paula Freitas já davam o que falar na crônica social carioca. Basta dizer que ali já morou Jorge Benjor. Precisa dizer mais alguma coisa?

15.11.10





É muito mais difícil controlar as emoções do que conquistar uma cidade.

CAÇADAS DE PEDRINHO – Ainda estou me recuperando do choque. A noticia de que o Conselho Nacional de Educação cogitou censurar o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato me deixou chocado. É que a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial alegou que o livro tem conotações racistas, já que num determinado trecho, Tia Nastácia, a empregada negra do Sítio do Pica Pau Amarelo, leva um susto quando vê uma onça pintada e sobe correndo numa árvore. Lobato então esreveu: “"Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão". Os burocratas da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial ficaram indignados com a referência de que a empregada negra parecia "uma macaca de carvão" e tentaram censurar o livro.


Secretaria de Promoção da Igualdade Racial? Acho que o Brasil é o único país do mundo que possui um órgão público cuja função é disseminar o racismo entre a população. Essa Secretaria foi criada apenas para isso: estimular o racismo no Brasil. Afinal, o viés da Secretaria é promover uma vingança contra os brancos que usaram os negros como escravos. Não se pode mudar fatos históricos. Mas os burocratas da Secretaria ganham altos salários para acreditar nisso.


A tal Secretaria da Igualdade Racial é resultante de uma corrente de pensamento que anda provocando algumas das maiores tragédias da vida moderna nesse limiar do Século 21: o politicamente correto. A ideologia do politicamente correto é uma tragédia que tem corroído a sociedade como uma praga, uma doença terrível, um vírus mortal.


Adoro Monteiro Lobato. Tenho um carinho muito especial por esse autor. Algumas das lembranças mais felizes da minha infância foram resultantes da minha convivência com a literatura desse grande escritor. Eu li e reli toda a sua obra literária infantil. Através dos seus livros descobri que podia viajar na imaginação, sair do mundo real e viver outras vidas, outros mundos. Foi lendo Monteiro Lobato que descobri o poder da literatura.


Eu lia os livros e queria que eles não acabassem nunca. As histórias eram envolventes e excitavam minha mente infantil. O sítio do picapau amarelo era um lugar que existia de verdade dentro da minha fértil imaginação. Conhecia bem todos os personagens. Adorava Narizinho, Dona Benta, Pedrinho, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa e viajava muito com as aventuras dos personagens. As histórias de Lobato me envolviam de tal modo que eu me refugiava no seu universo e posso dizer que fui um menino muito mais feliz por causa da literatura dele.





SEU WALDIR - Já que Monteiro Lobato é uma jóia rara que lembra a minha infância, pesquisando no You Tube descobri uma outra pérola dos meus tempos de menino. Nessa época eu morava em Recife, uma cidade encantadora. Uma cidade que tinha vida própria e seus próprios movimentos culturais. Foi num desses movimentos culturais que, certa vez surgiu uma banda chamada Ave Sangria. Era um conjunto de rock que trazia para si as influências da tradicional música nordestina. Pois bem. Um dos grandes sucessos do Ave Sangria foi uma música chamada Seu Waldir. Durante um bom tempo, entre os meninos mais antenados da minha turma de rua, ou mesmo do colégio, o meu apelido era "Seu Waldir", por causa da música do Ave Sangria. A canção havia se perdido no tempo da minha memória, mas com o You Tube tudo mudou. Agora a gente encontra todas as músicas do mundo arquivadas num só lugar. Aonde é que nós vamos parar?

Escute Seu Waldir no link a seguir:



Seu Waldir, o senhor
Magoou meu coração
Fazer isso comigo, Seu Waldir
Isso não se faz, não


Eu trago dentro do peito
Um coração apaixonado
Batendo pelo senhor
O senhor tem que dar um jeito
Se não eu vou cometer um suicídio
Nos dentes de um ofídio vou morrer


Estou falando isso
Pois sei que o senhor
Está gamadão em mim
Eu quero ser o seu brinquedo favorito
Seu apito, sua camisa de cetim


Mas o senhor precisa ser mais decidido
E demonstrar que corresponde ao meu amor
Pode crer
Se não eu vou chorar muito, Seu Waldir
Pensando que vou lhe perder
Seu Waldir, meu amor...

11.11.10

Só é digno da vida aquele que vai, todos os dias, à luta por ela.


Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta
O tríplice mistério do "stop"
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um,
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez e assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro,
De um moleque do Brasil
Que peço e dou esmolas,
Mas ando e penso sempre com mais de um,
Por isso ninguém vê minha sacola

(Letra da música Mistério do Planeta, eterno sucesso dos Novos Baianos).


Escute aqui:


5.11.10



Algumas das maiores dádivas de Deus são preces não atendidas.



EU VI DEUS E ELA É NEGRA – Essa é uma frase que aparece escrita num dos cartazes que os personagens da peça Hair seguram durante uma passeata. Sem dúvida o musical Hair é um belo espetáculo. Tem um elenco habilidoso que canta, dança e representa. Uma direção profissional, antenada com os valores dos musicais da Broadway. E uma produção caprichada. Apesar de ter sido um espetáculo que ficou muito associado a uma época, a virada dos anos de 1960 para 1970, nos dias de hoje Hair continua um espetáculo jovem, alto astral e comovente. Uma peça que as novas gerações podem assistir como uma aula de história, já que mostra com muita propriedade o que foi o movimento hippie, um estilo de vida que se evaporou com a história.


A dramaturgia de Hair não foi enfraquecida com o tempo. A trama ainda comove o público, já que é ambientada num período histórico muito específico. Entretanto, é fundamental ressaltar o seguinte: o ponto forte do espetáculo é a música. A música de Hair continua vibrante, moderna, envolvente. A trilha sonora não envelheceu em nada. Pelo contrário. São as músicas que conduzem a emoção do espetáculo. E é a excelência da música que torna Hair um grande musical.


Charles Moeller e Cláudio Botelho, os magos do musical no Brasil, responsáveis pela montagem de Hair, estão de parabéns. Mais uma vez eles conseguiram acertar e montar um espetáculo com as mesmas características dos musicais de Londres e Nova York. Mas eu tenho uma única restrição ao espetáculo. Acho um absurdo que Aquarius, a música mais famosa da trilha de Hair, que dá início ao espetáculo, seja cantada numa versão em português. Aquilo ficou estranhíssimo. A música é um hit há mais de quarenta anos, todo mundo conhece a versão em inglês. Quando o elenco começa a cantar a música em português soa estranho. Fica esquisito quando eles pronunciam “aquário” em vez de “aquarius”. Hoje em dia quase todo mundo sabe inglês e a música é tão incrível que ninguém precisa saber a letra para entender a música. Pena que Charles e Cláudio não tenham percebido isso. De qualquer modo, é apenas um detalhe diante da beleza que é a montagem brasileira do musical.


A sessão de estréia no Teatro Casa Grande foi frenética e badalada. O teatro lotado, a platéia vibrando com o espetáculo. Tinha Sergio Brito, Gloria Pires, Ingrid Guimarães, Tiago Lacerda, Paulo Próspero, Danielle Winnits, Denis Carvalho, Elba Ramalho, Ciro Barcelos, Totia Meirelles, Sabrina Korgut, Bruno Chateubriand, André Ramos, Zeca Camargo, Antonio Cícero, Tuca Andrada, Claudia Jimenez... e a poderosa Bárbara Heliodora. No coquetel que se seguiu a estréia muita gente comparou a atual versão com a histórica montagem do final dos anos de 1960. Denis Carvalho, por exemplo disse que adorou a montagem de Charles e Cláudio, “mas que não chega nem aos pés da primeira versão”. “É muito Broadway, muito showbizz. Falta rebeldia, contestação”, disse o coreógrafo Ciro Barcelos que, como Denis, também atuou na primeira versão.


Quem também ficou decepcionado com o espetáculo foi o psicanalista Paulo Próspero. “A questão é que a primeira versão do espetáculo montada no Brasil era absolutamente genial. A montagem brasileira era, por exemplo, mil vezes melhor do que a versão inglesa. Eu assisti no Rio e assisti em Londres e a montagem do Rio era muito melhor”, dizia Próspero, sem tirar os olhos do Tiago Lacerda. “Hair é um espetáculo que pede ousadia e transgressão e falta isso nessa nova montagem. É bem feito, tudo certinho, mas falta rebeldia. O problema é que o Charles Moeller e o Cláudio Botelho são muito caretas e só viram o lado Broadway da peça”, continuou Próspero, hipnotizado pela beleza do Tiago Lacerda.


Um dos grandes momentos do espetáculo é a famosa cena em que o elenco tira toda a roupa e fica todo mundo nu em cena. É um elenco jovem. Rapazes e moças no frescor da juventude. É uma coisa linda a nudez do elenco de Hair. Mas Paulo Próspero, ainda sem tirar os olhos de Tiago Lacerda, criticou esse momento mágico do espetáculo. “Na versão original o elenco ficava nu, descia do palco e ficava circulando no meio da platéia. Em 1968 isso era ousadíssimo. Hoje em pleno século 21 a gente vê essa nudez contida”.


Veja um trecho de Hair na Broadway:

Veja a sensacional abertura do filme Hair, de Milos Forman:

(Fotos de Waldir Leite)

1.11.10

O cuidado em ouvir é o caminho mais curto para o saber.




NAVEGAR É PRECISO – Era uma linda manhã de sábado. O sol brilhava por entre nuvens esparsas e uma brisa suave soprava do oceano. Parecia um dia perfeito para um passeio de barco. Quando cheguei no Iate Clube do Rio de Janeiro o Apeiron já estava no ancoradouro pronto para zarpar. Apeiron. Esse é o nome do barco do Maurício, um velho amigo, que pilotava a embarcação com sua mulher Andréia. Além de nós, mais um casal, Dulce e Marcelo Bundchen, primo da Gisele.


Um passeio de barco num sábado ensolarado. Era tudo o que a gente precisava no início do feriadão, véspera da eleição presidencial. Logo o Apeiron estava navegando na Baía da Guanabara. Uma imagem de sonhos se descortinava aos nossos olhos. A enorme pedra do Pão de Açúcar dando um ar imponente ao bairro da Urca. Ao longe a silhueta montanhosa e o Cristo Redentor lá no alto. “Como é linda essa cidade”, não se cansava de exclamar a gaúcha Dulce, com sua voz cheia de sotaque. A linda paisagem que se via só fazia ratificar as palavras da gaúcha.


Como o vento estava suave Maurício ligou o motor do barco, que adquiriu velocidade, e logo estávamos em mar aberto. Eu me divertia ajudando Maurício a pilotar, enquanto as mulheres se espreguiçavam no convés e Marcelo pegava cervejas na geladeira. Bebíamos, comíamos canapés e navegávamos no oceano tranquilo. No alto mar Maurício desligou o motor e içou as velas. Agora não havia mais o ruído do motor e tudo pareceu perfeito. Velejávamos ao sabor dos ventos. Com habilidade Mauricio nos levou até a Praia de Itaipu, em Niterói. Ali mergulhamos, nadamos até a praia, comemos camarões fritos e bebemos muitas cervejas. O sábado se revelava um dia maravilhoso para todos nós.


Quando voltamos para o barco, depois da parada na Praia de Iatipu, um vento diferente começou a soprar. “O tempo está virando”, comentou Maurício, mirando o horizonte. Logo o mar começou a ficar agitado e um vento forte começou a soprar agitando as velas e balançando o barco. Foi tempo de içar a âncora e zarpar de volta ao Iate Clube. E, se o início do passeio foi como um sonho, não seria exagero dizer que a viagem de volta foi como um pesadelo. O mar foi ficando cada vez mais agitado, com ondas enormes que pareciam querer engolir o barco. Do Iate Clube passaram um radio para todos os barcos que tinham zarpado de lá. “Perigo no mar”, uma voz metálica ecoou pelo barco, aumentando ainda mais meu nervosismo. “Waldir, põe um colete salva-vidas”, ordenou Maurício, segurando o leme com uma mão e na outra uma lata de cerveja, me deixando definitivamente em pânico.


As ondas foram ficando cada vez maiores. E entre elas surgiam cavidades que pareciam querer sugar o barco para as profundezas. A embarcação era jogada de um lado para o outro num ritmo frenético. Eu estava apavorado com aquela sucessão de emoções fortes. Mas os dois casais que estavam comigo pareciam se divertir com aquilo tudo. Eles não paravam de beber e davam gritos de farra quando uma onda maior fazia as velas do barco quase encostar nas águas do oceano. “Fica tranqüilo, Waldir, se o barco virar a gente nada até o litoral”, gritava o primo da Gisele, dando gargalhadas, enquanto eu o fuzilava com um olhar de ódio.


“Quer uma cerveja, Waldir?”, me perguntava Maurício, quando uma onda gigantesca avançou sobre o barco e lançou um incrível jato de água sobre o meu rosto. “Não, Maurício, eu não quero cerveja! Eu quero terra firme!”, respondi sem conseguir esconder o pânico e a irritação. Maurício sorria sem parar, parecendo estar se divertindo muito com tudo aquilo. “Fica tranqüilo que esse barco é inglês e ele não vira nunca”, disse ele quando, mais uma vez, uma onda enorme quase vira o barco. Logo começou a chover, aumentando a sensação de frio provocada pelo vento.


Os minutos pareciam intermináveis naquela tarde de sábado. Eu ansiava por terra firme mas, ao mesmo tempo, conseguia perceber uma beleza muito grande naquele movimento do mar. Aos poucos fui percebendo que a melhor maneira de lidar com aquela situação era me deixar levar pelas ondas. Não reagir ao seu movimento, nem mesmo emocionalmente. Certos estavam meus amigos ao encarar aquilo como um privilégio. Uma oportunidade rara de diversão que a natureza estava proporcionando. Aos poucos fui ficando mais calmo e aceitando com serenidade as ondas, a chuva e o vento. E foi assim que chegamos de volta à Baía da Guanabara. Agora o mar estava com menos ondas, o vento havia diminuído e só a chuva caía inclemente sobre as nossas cabeças.



Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, a
inda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.


Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.


É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.


(Fernando Pessoa)

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