30.11.02




São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, era um oficial da guarda pretoriana durante o império de Diocleziano. O guerreiro foi levado ao martírio por sua própria companhia, por causa da sua adesão ao cristianismo. A tela é de Guido Reni

SANDPIPER BEAT SESSIONS – A mais carioca das grifes de moda jovem incendiou o verão da cidade com uma animada festa no Teatro da Lagoa. O evento faz parte da moderna estratégia de marketing da Sandpiper no sentido de badalar sua sofisticada e elegante coleção de verão. Os modelitos, lançados oficialmente na Rio Fashion Week, já estão disponíveis nas lojas de todo o país, até mesmo na filial de Bali. As camisas em tricoline com bordado são simplesmente incríveis, assim como as camisas em microfibra twill. Bermudas cargo. Camisas pólo piquet. Calças com cortes e cores sensacionais. Adoro o estilo, as cores e o clima caribenho do estilo Sandpiper de vestir.


Na festa os modelos da grife faziam a festa dos convidados circulando pelo lugar com os disputados modelitos da coleção verão 2003. André Rezende, o mais top dos nossos top models, estava lindo, com uma camisa de tricoline estampada em tons vermelhos e um jeans vintage. Dizer que o André estava lindo é redudância. Ele estava deslumbrante, recebendo os convidados com muita simpatia. “Hoje você foi no posto nove?”, ele me perguntou. Por causa da sua morenice ipanemense, tão bem traduzida no seu estilo de vida, e por causa dos seus olhos incrivelmente verdes Mr. Rezende ganhou do empresário Napoleão Fonyat o apelido de Zé Carioca. Daniel Mattar vestia uma camisa de malha stone com silk e calça cargo. Seus longos cabelos ele escondeu numa touca e isto realçou ainda mais os traços marcantes do seu rosto.


O empresário Napoleão Fonyat, big boss da Sandpiper, não conseguia esconder a felicidade com o sucesso da festa. Charmoso e boa pinta, ele vestia uma camisa jacquard e um jeans básico. Em volta do pescoço dois colares de contas balinesas lhe davam o maior charme. Fumando um charuto atrás do outro ele cumprimentava jornalistas e demais convidados sem parar de dançar um instante. Mr. Fonyat representa para a moda carioca do século 21 o mesmo que Mauro Taubman representou para a moda carioca dos anos 80. Estilo, contemporaneidade e identificação com o espírito jovem de quem considera a vida uma praia.


(A grife Sandpiper é definitivamente um estouro! Tanto que no momento em que estava sendo inaugurada a filial de Bali uma bomba terrorista explodiu numa boate local.)


O deejay não deixava ninguém parado, tocando uma música pulsante e irada. No palco da casa noturna foi montado um chill out, com sofás e interessantes efeitos de luz. Dois telões enormes exibiam cenas do desfile da marca no Rio Fashion Week, intercaladas com viajantes cenas psicodélicas e fotos dos ensaios de moda realizados em Havana, Bali e Amsterdã. Cada vez que apareciam fotos do André Rezende um clima denso se instalava no ar. As figuras mais carimbadas do circuito fashion da cidade estavam presentes. Nenhum evento pode ser considerado fashion no Rio de Janeiro se não tiver a presença da trepidante Tereza Duarte. Pois ela estava lá. Bela, elegante, simpática, jovial. Parecendo uma fada encantada, que com sua varinha de condão dizia: “A Sandpiper é Fashion!” Aliás, no dia que a palavra fashion for definitivamente incorporada ao dicionário de língua portuguesa, a definição do verbete será feito por apenas duas palavras: Tereza Duarte.


Também estavam na Sandpiper Beat Sessions personalidades como Renato Rossoni e seus longos dreadlocks; Heloisa Marra que fazia a cobertura da festa para o caderno Ela, acompanhada da fotógrafa Camilla Maia; Cláudio Gomes, charmoso como sempre; Toni Oliveira, mostrando todo o seu profissionalismo na organização do evento; Isabel de Luca, sempre divertida e animada; Aloísio de Abreu dançando sem parar; meu querido Marcelo Balbio, que elogiou meu blog e me apresentou ao jornalista Jefferson Lessa, um cara super divertido e alto astral; Cabeção, conhecido playboy da rua República do Peru; Ricardo Danoninho, um simpático bofe de Copacabana que usava uma t-shirt Tommy Hilfiger. Só gente fina!


O grande acontecimento da festa, no entanto, foi a presença da doce e bela Cíntia Howllet-Martin, a eterna musa do verão. Parecia uma miragem, dançando na pista de dança. Tão leve, parecia flutuar de acordo com os ritmos emitidos pelas caixas de som. Vestia uma saia até o joelho e um corpete bem comportado, mas que deixava os ombros e parte das costas nua. Tudo Sandpiper. Apenas numa orelha usava um brinco de inspirações indígenas. Maquiagem? Nenhuma. Sua beleza dispensa qualquer tipo de retoque. Os longos cabelos sedosos presos num rabo de cavalo, cuja crina acariciava suas costas sensualmente enquanto ela dançava. Os pés ela fez a gentileza de calçá-los com sandálias de dedo, feita de borracha colorida. Assim, os seus charmosos e delicados e lânguidos pezinhos podiam ser admirados pelos seus súditos, que sonhavam um dia serem pisados por ela.


A VIDA É UM ANÚNCIO DA SANDPIPER




UM BASEADO NO POSTO NOVE - Um dos programas mais tradicionais do verão carioca é fumar um baseado no posto nove. É um fenômeno comportamental do balneário. No posto nove toda hora é hora de fumar maconha. Um baseado pela manhã, para começar bem o dia. Um baseado ao meio-dia para enfrentar o sol à pino. Um baseado qualquer hora da tarde para deixar o sujeito maluco-beleza. E o mais importante de todos, que é o baseado do pôr-do-sol. Aquele baseado que se fuma para admirar o sol se pondo no horizonte. Para um verdadeiro Ipanemense fumar um baseado no por do sol é uma tradição tão autêntica quanto o chá das cinco para os ingleses. É o momento de saborear o fim do calor do sol, quando uma brisa suave sopra do oceano, refrescando corações e mentes.


Nesses dias de calor senegalês tenho ido todos os dias fumar o sagrado baseado do pôr do sol no Posto Nove. Sexta-feira foi demais! Quando cheguei no nove (os íntimos chamam simplesmente de “o nove”) dei de cara com uns caras gostosos que eu conheço da praia mas nem sei os nomes deles. Gente fina. Ficamos jogando conversa fora. Falando sobre o programa ideal para a noite que se aproximava. Um disse que ia para o pagode da Lagoa. O outro disse que ia para uma rave no armazém cinco do cais do porto. O terceiro afirmou que ia para a Six. O quarto disse que não ia sair na sexta, pois no sábado iria para a festa da Alicinha Cavalcanti na ilha fiscal. Eu pensei: "O Rio é uma festa!" Foi quando um deles falou que ia acender um baseado.


O baseado do cara era simplesmente alucinógeno. Depois do primeiro tapa o verão tinha se transformado numa estação em cinemascope. Tudo muito harmônico. Calmo. Uma sensação plena de integração com a natureza. Ficamos rodando o baseado enquanto outros grupos fumavam seus próprios baseados. Num ritual exótico. Tribal. Enquanto isso o sol imperial se preparava para o grande momento do seu dia. O pôr!


Foi logo depois de fumar o baseado que eu a vi. Virei de costas e pude divisá-la entre uma multidão de corpos bronzeados quase nus. No meio daquela gloriosa massa de carne humana mal passada sua imagem me bateu como o primeiro tapa do baseado. Forte e inebriante. Linda como um pôr do sol, ela estava sentada numa cadeira de praia, conversando com amigos. Então ela se levantou cheia de graça e foi jogar frescobol na beira da praia. Foi quando eu pude contemplar sua beleza magnética com o sol ao fundo se refletindo no oceano. O corpo perfeito, como o brilho dos raios que refletiam no mar. Os longos cabelos presos num rabo de cavalo. O semblante carregado de feminilidade. Era ela. A mais bela de todas as cariocas. Cíntia Howllet-Martin


Atordoado com o efeito do baseado e perturbado com a beleza da moça mergulho no mar e posso ver os raios de sol brilhando embaixo da água límpida. A água me refresca até a alma. As ondas quebram massageando meu corpo, que parece totalmente integrado ao oceano, como se ele também fizesse parte daquele mundo. Todo ser humano deveria ter a oportunidade de, pelo menos uma vez na vida, experimentar esta sensação: fumar um baseado e depois dar um mergulho no mar. É algo tão intenso quanto um orgasmo. Sentir a água salgada envolvendo seu corpo como uma mãe carinhosa envolvendo um recém nascido no colo.


De dentro d´água vejo Cíntia entrar no mar. Agora ela soltou os cabelos, que lhe caem sobre os ombros. Parece uma miragem. Um fenômeno da natureza. Ela adentra o oceano como uma Iemanjá. A Iemanjá do posto nove. Mergulha e some entre o branco espumante das ondas. Depois ressurge lânguida e serena como uma fada. Concedendo ao oceano a suprema honra de refrescar o calor do seu corpo de sereia. Dando ao sol o privilégio de lhe tocar com os últimos raios de um inesquecível dia de verão.




SOU TRICOLOR DE CORAÇÃO, SOU DO TIME TANTAS VEZES CAMPEÃO – Estou vibrando com o Fluminense na reta final do campeonato. Ando hiper excitado com a possibilidade do tricolor das Laranjeiras ser campeão brasileiro. Amo o futebol e essa vibração que ele faz acontecer no coração dos brasileiros.


O próximo livro do Nelson Motta é sobre o Fluminense. Nelsinho está escrevendo sobre o time dos anos 75/76/77, que ficou conhecido como a máquina tricolor, por ter garfado todos os torneios. Época de Rivelino e Paulo César Caju. Espero que o livro tenha muitas fotos. Adoro ver fotos antigas de jogos de futebol para ver as pernas dos jogadores. Antigamente os calções eram menores, mais curtos. Então as pernas dos jogadores ficavam mais em evidência. Neste aspecto o futebol regrediu.
Hino do Fluminense
de Lamartine Babo, 1942


Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao Tricolor


Salve o querido pavilhão
Das três cores que traduzem tradição
A paz, a esperança e o vigor
Unido e forte pelo esporte
Eu sou é tricolor!



Vence o Fluminense, com o verde da esperança
Pois quem espera sempre alcança
Clube que orgulha o Brasil
Retumbante de glórias e vitórias mil


Vence o Fluminense, com o sangue do encarnado
Com amor e com vigor
Faz a torcida querida vibrar de emoção
O tricampeão



Vence o Fluminense, usando a fidalguia
Branco é paz e harmonia
Brilha como o sol da manhã
Qual luz do refletor
Salve o Tricolor

28.11.02




River Phoenix

Estou chocado com SHAMAN, o novo de disco de Carlos Santana . Simplesmente, o guitarrista recria a música pop do novo século com uma inteligente e harmoniosa seqüência de canções. Esqueçam a evolução tecnológica que domina o pop contemporâneo com seus deejays espetaculares. Em seu novo disco Santana praticamente reinventa a melodia, com seus arranjos e acordes sutis. A influência caliente dos ritmos latinos e o conceito definitivo de world music estão lá. São músicas capazes de levar ao delírio uma pista de dança, com ritmo e charme. E também canções talhadas para fazerem suspirar corações apaixonados.


Do começo ao fim, SHAMAN é uma seqüência de melodias saborosas, que encantam os ouvidos e enlevam a alma. O disco é uma resposta da música ao caos ideológico e moral da nossa época. É como se o artista estivesse mostrando ao seu público que, apesar das dores da existência humana, ainda existe arte. Arte em forma de música. Uma arte que exibe toda a grandeza da existência humana traduzida em canções. Uma arte que faz vibrar no homem os seus sentimentos mais nobres, já que a música de Santana nos transporta ao amor, a fraternidade, a dança, ao sexo, a paixão, a amizade, a solidariedade, ao afeto, a ternura. Nos transporta ao lado mágico da vida.


No álbum anterior, Supernatural, Santana já havia abalado as estruturas do pop com canções definitivas como Maria Maria e Corazon Espinado. O novo álbum é uma evolução do anterior, como conceito e concepção. E nessa evolução ele encontrou a essência da música, transformou-a em canções e fez o primeiro disco definitivamente pop do século vinte e um.




Fred With tires de Herb Ritts

O calor chegou com força total na cidade. O astral do verão presente em cada esquina. Hoje o mar de Ipanema parecia uma lagoa. Águas claras e límpidas. Cada mergulho era uma viagem ao paraíso. Peixes circulavam à minha volta enquanto eu conversava com Jairo. Ficamos um tempão batendo papo dentro da água fresca. Enquanto isso os peixes vinham nos pinicar. Os lindos peixinhos nem se importavam com a presença dos banhistas. Ignoravam a todos certos de que estavam em seu ambiente natural. Nessa linda tarde de verão eu não saberia dizer o que era mais comovente. O sol que transmitia um calor furioso. O infinito e sereno azul do céu. A imensidão do mar, com seus peixes tão simpáticos e acolhedores. Os olhos verdes de Jairo que pareciam duas esmeraldas tristes querendo sorrir.


As manifestações da natureza sempre me comovem. Ontem uma baleia ficou se exibindo na praia. Um salva-vidas disse que ela veio seguindo um cardume até Ipanema. No final da tarde uma experiência mágica. Um temporal desabou sobre o dia quente de verão. Trovões. Relâmpagos. Em pouco tempo Ipanema ficou coberta de nuvens escuras enquanto um quase dilúvio desabava sobre a praia. Foi uma delícia mergulhar no mar com a chuva furiosa caindo sobre mim. Foi um privilégio receber ao mesmo tempo a energia que brotava da chuva e a força que emanava do oceano.




The Preparation de Kenneth Hayes Miller













Fotos de Waldir Leite

FESTA SANDPIPER BEAT SESSIONS 3 - Napoleão Fonyat mais uma vez aposta suas fichas na cena de música eletrônica, e realiza a terceira edição da festa SANDPIPER Beat Sessions. O evento, que será realizado hoje, acontece no Teatro da Lagoa (Av. Borges de Medeiros, 1426), a partir das 22h30, e é fechado para clientes, convidados vips e amigos do empresário. Quem comanda o som é o houseiro Markinhos Meskita + convidados.


IPANEMA SECRETA - A charmosa galeria que fica em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, coração de Ipanema, mudou de nome. Agora, o número 371 da Rua Visconde de Pirajá (o mesmo prédio do antigo cinema Star Ipanema) passa a se chamar Ipanema Secreta.
"Secreta", porque a galeria esconde espaços preciosos para o público descolado do bairro. É um daqueles endereços especiais que a gente descobre, passa a freqüentar para comprar coisas que mais ninguém tem e só conta para aquelas pessoas também especiais. Para apresentar o novo projeto, e fechar o ano em grande estilo, as lojistas do segundo andar da galeria organizaram uma festa fashion, para clientes, jornalistas de moda e formadores de opinião da cidade.

23.11.02




O teatro, quando bem realizado, torna-se algo mágico e fascinante. O espetáculo A PROVA é uma prova do poder do encanto do teatro. Um belo texto, escrito com talento e profissionalismo e com aquilo que Glória Menezes chama de carpintaria teatral. Um diretor sensato, que sabe aproveitar ao máximo as qualidades do texto. Técnicos eficientes criando uma comunhão perfeita entre cenário, luz e sons. Um elenco afiado. Gisele Fróes, Emilio de Mello, Aderbal Freire-Filho. E no centro de tudo isso, dominando a platéia com talento, competência e sensibilidade, a figura da grande diva do teatro brasileiro Andréa Beltrão.


É impressionante a performance de Andréa Beltrão neste espetáculo. Na peça ela é Catherine, uma garota sensível, super dotada, carente, que acabou de perder o pai, um matemático famoso e maluco. Com gestos sutis e uma sensibilidade à flor da pele ela domina a cena e passa para a platéia toda a fragilidade e a força do personagem. Com pequenas inflexões da voz e um absoluto controle do olhar, ela faz com que o público ria e se emocione com a dor e o sofrimento de Catherine.


La Beltrão é uma atriz magnífica. Ela tem voz, gesto e expressão corporal. É um típico animal teatral. Ela é do teatro, e não existe a menor dúvida disso. Andréa deixa a platéia boquiaberta, impressionada com o trabalho de uma atriz que se entrega ao seu oficio com uma paixão tal, que a platéia vê nessa entrega uma declaração de amor ao teatro. E uma grande vontade de dar prazer ao seu público. Aplausos para ela!

O verão chegou com força total. A cidade cheia de eventos e raves. Todos os lugares cheios, como se todo mundo estivesse montado na grana. O fato é que esse verão promete. Até a praia está fazendo a sua parte, mostrando-se bela e serena. Águas límpidas. Cardumes nadando juntos aos banhistas. A beleza se fazendo presente através da natureza.


Num mergulho em Ipanema encontro Jairo, querido amigo, faixa-preta de jiu-jitsu. Ele mergulha ao meu lado, junto aos peixes coloridos que decidiram fazer uma presença para nós. Depois de muito mergulhar, ele emerge seu corpo musculoso da água do mar, sorri como uma criança feliz e afirma certo de que está dizendo uma verdade absoluta: “ Não existe dinheiro no mundo que pague isso que a gente está vivendo aqui. Essa praia, esse sol, esse dia lindo, esses peixes à nossa volta. Nenhum dinheiro paga isso.”


Depois da praia combinamos de nos encontrar logo mais à noite na Pizzaria Guanabara. Chego no Baixo Leblon por volta das onze horas. Jairo está sentado numa mesa com o Isnard, outro amigo. Eles me recebem com carinho. Na mesa ao lado quatro garotas gostosas bebem chope e saboreiam petiscos. Começamos a conversar e rola um clima de paquera com as moças da mesa vizinha. Em pouco tempo estamos batendo um animado papo com as garotas. Signos, viagens, música, assuntos banais. Elas se apresentam. Uma ruiva, uma morena e duas gêmeas. As garotas são simpáticas e articuladas. Mas logo elas pagam a conta e vão embora. Dizem que estão indo para a boate People e falam para irmos lá depois. Quando elas saem Jairo chama o garçom seu amigo e pede a ficha das moças. O garçom então nos diz que elas são garotas de programa que atuam no Leblon e cobram US$ 200 por uma dupla penetração. Caímos na risada e pedimos mais uma rodada de chope.


A noite estava movimentada na Pizzaria Guanabara. Numa mesa, à nossa frente a apresentadora Angélica conversava com um grupo de amigos. Jairo não se cansava de elogiar a beleza da moça. Meu camarada estava todo pimpão com a presença da estrela da TV. Daniele Winnits e Wolf Maia também circulavam por lá, vindos do espetáculo que estão apresentando no Leblon. Noutra mesa Amora Mautner e a devoradora de homens Preta Gil. Enquanto isso Chico Recarey circulava pelo lugar fiscalizando os negócios.


Enquanto isso, Jairo e Isnard me contam que passaram o feriado de 15 de novembro em Búzios. Dizem que a cidade estava cheia. Muita festa rolando. Gente bonita por todos os lugares e muita loucura acontecendo. Eles ficaram numa casa maravilhosa em plena praia de Geribá, com mais dois amigos, também lutadores. Jairo me contou que no sábado, depois de ter ido dar um passeio na rua das Pedras, chegou na casa da praia de Geribá e encontrou os amigos e mais quatro mulheres completamente nus. Na sala estava Rodrigo, que todo mundo chama de Rodrigay, transando com duas garotas ao mesmo tempo. Na piscina Esfiha e Isnard mergulhavam pelados com duas meninas. Enquanto saboreávamos o delicioso chope da Pizzaria Guanabara os rapazes contavam detalhes da noitada erótica em Búzios e me diziam que iam voltar lá no próximo final de semana e faziam questão que eu fosse com eles. Eu ri muito com a história toda e aguardo ansiosamente que o fim de semana chegue rápido.


A noite avançava rápido com o horário de verão. Depois chegou Rodrigay. Lindo, todo vestido de preto. Ficou um tempo na nossa mesa depois foi circular pelo bar. Depois chegaram duas mulheres, amigas dos rapazes, que sentaram na nossa mesa. Uma delas era simplesmente hilária. Ela é cafetina, e agencia garotas para homens bem sucedidos e políticos. Além disso a mulher tem um clube de sexo na Barra da Tijuca onde ela organiza festinhas para lá de animadas. Gostei dela. Articulada, simpática, discreta, bom papo, bem humorada. Por ser baiana, ela me pareceu uma personagem do Canto da Sereia, o livro do Nelson Motta. Insistiu para que fôssemos, qualquer dia, numa tal de Noite do Swing, que ela organiza no seu animado clube na Barra. Além disso, a divertida madame nos convidou para passar o carnaval na Bahia. “Eu ponho todos vocês no camarote do Antonio Carlos Magalhães.” Nada como ser bem relacionada!




No próximo final de semana será realizado o Festival de Cinema de Búzios, que é realizado todos os anos no balneário mais chique do pedaço. O ano passado eu estava em Búzios durante o Festival, hospedado na casa da enigmática Marina W. Foram dias muito agradáveis. Nos divertimos muito eu, Marina W e o seu marido, o jornalista da GloboNews Sidney Rezende. Na beira da piscina ouvíamos muito Manu Chao, passeamos na rua da pedras, jantamos em restaurantes maravilhosos, fomos nas praias mais badaladas, assistimos a um pedaço de um concerto que estava sendo realizado no campo de futebol da cidade. Visitamos uma pousada decorada com fotos históricas de Brigitte Bardot. A cidade estava cheia de gente alegre e louca. Foi tudo muito elegante, light e divertido.


Um dia estávamos passeando, quando por acaso fomos dar na praça da cidade, onde estavam sendo exibidos os filmes. Uma tela enorme no meio da praça. Em volta da praça um monte de gente aguardando o começo do filme. A população local, turistas, convidados do festival. Marilia Gabriela e Gianechini fugindo do assédio dos paparazzi. Foi então que começou a sessão, com o filme O Xangô de Baker Streeet, de Miguelzinho Faria. Nenhum de nós três ainda tinha assistido ao filme. Decidimos assistir só um pedaço, para ver se era bom. Começamos a assistir e achamos o filme tão sensacional que resolvemos ficar até o final. O Xangô de Baker Street parece um filme americano. No bom sentido. Uma história muito bem contada por um roteiro eficiente, uma direção segura e correta, além de uma produção magnífica. A praça estava tão cheia que só conseguimos sentar no chão de concreto. Assistimos ao filme em condições para lá de adversas, sentados num chão duro, num lugar extremamente lotado mas, em momento algum desistimos do filme. Não que não quiséssemos. É que o filme simplesmente não permitiu que fôssemos embora. Ficamos hipnotizados pelas aventuras de Sherlock Holmes no Rio de Janeiro. Um luxo O Xangô de Baker Street.


Foi no Festival de Cinema de Búzios que eu tive o meu momento Winona Ryder. O cartaz do Festival era lindo, com uma foto enorme de Brigitte Bardot. Eu fiquei louco pelo cartaz desde o primeiro momento em que o vi. Quem lê esse blog sabe o quanto eu adoro BB. Pois bem. Tentei roubar o cartaz da sede do festival mas fui descoberto pelo segurança, que me passou o maior pito. Cinema é a maior diversão!
O CASO PEDRINHO – Realmente é trágica e comovente a história do bebê que foi seqüestrado e encontrado dezesseis anos depois. É comovente a resignação e a persistência dos pais verdadeiros em busca do filho. Mas a coisa que mais me atrai nessa história é o próprio Pedrinho. Que menino lindo! Que coisa fofa! Parece um anjo de Caravaggio. Com aquela aura de juventude e beleza que os meninos têm aos dezesseis anos. Adoraria dar um beijo na boca dele.

SOU BICHA PORQUE QUERO! Madame Satan


20.11.02




Adoro SHAKIRA
O Canto da Sereia – Acabei de ler o livro de Nelson Motta. No começo tive uma certa dificuldade de me envolver com o romance. Mas depois a trama intricada, ambientada nos bastidores da música pop baiana, me envolveu completamente. A figura de uma estrela da música baiana sendo assassinada no alto de um trio elétrico, em pleno carnaval, a princípio, me pareceu muito forte. Com o desenvolvimento da história, tudo me soou plausível e, aos poucos, os personagens foram ganhando vida própria. Acho que o Nelsinho Motta teria conseguido melhores resultados com o seu livro, se tivesse tomado como fonte de inspiração os romances de Jorge Amado. A história é perfeita para uma trama no estilo do mais importante escritor baiano. A opção de narrar o livro como um romance policial banaliza a trama, já que o “noir” exige a presença de clichês. E o romance de Nelson Motta é muito mais que uma história policial. A cantora Sereia é um personagem feminino baiano que tem a mesma aura de Dona Flor, Gabriela e Tieta. O livro é ótimo, na medida em que oferece, em seu conteúdo e forma, o prazer da leitura. Mas poderia ter sido melhor ainda se o autor tivesse buscado mais inspiração em Jorge Amado e menos em Raymond Chandler.

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa



Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito.

Renato Russo


19.11.02


Chove torrencialmente sobre Ipanema. Da minha varanda vejo raios enormes rasgando o céu com seu brilho estelar. Uma chuva raivosa desaba sobre a cidade. É quase um dilúvio. Gotas de chuva trazidas pelo vento molham meu rosto. As luzes da casa estão todas apagadas. Apenas o flash dos relâmpagos iluminam a noite. O rufar dos trovões sufocam o espocar dos tiros do cotidiano. O barulho forte dos trovões parecia Deus ralhando com os seres humanos. Gritando para todos nós: quem manda aqui na terra sou eu! A voz potente iluminada por raios incandescentes. O temporal me hipnotiza com todas as suas manifestações. A chuva. Os raios. Os trovões. O som do espetáculo. A natureza mostrando-se bela e poderosa, num momento de grande inspiração.


Um pouco antes de cair o temporal, estava fazendo um calor tão grande que eu saí de casa e fui até o calçadão. No posto seis encontrei meus amigos Pernil e Júnior. Ficamos conversando cerca de quarenta minutos. Eles também são tricolores então ficamos fazendo cálculos e previsões sobre as possibilidades do Fluminense ser campeão. Um vento quente soprava do mar e Pernil vaticinou: vai cair um temporal. Depois eles começaram a falar de Moulin Rouge, que só tinham assistido agora. Eles adoraram o filme e ficaram o tempo inteiro falando das cenas. Pernil disse que a cena em que Ewan McGregor canta Your Song é uma das mais bonitas que ele já viu no cinema. “Agora eu já sei como realmente ganhar uma mulher. Quando ela estiver se remexendo toda para dar para mim eu canto Your Song para ela.” Adoro meus amigos.

"Não há solidão mais triste e pungitiva do que a do homem sem amigos. A falta deles faz com que o mundo pareça um deserto. Aquele que é incapaz de amizade tem mais de irracional que de homem."



Um mergulho em Ipanema – Feriado de sol. Um calor de arrasar. Mergulho em Ipanema e a água do mar está clara e límpida. A temperatura da água parecia acariciar a minha pele.Um cardume nada ao meu lado. Peixes lindos. Enormes. A natureza sempre me emociona.


Em Copacabana teve início a COPA DE FUTEBOL DE PRAIA. Os principais times do bairro disputando o tradicional torneio de verão nas areias da praia. Ouro Preto 1 x 0 Lá Vai Bola; Meus Amigos 1 x 2 Xavier; Constante 3 x 2 Botafogo; Copagalo 0 x 0 União Família Tetra. No primeiro final de semana do torneio surpresas nos resultados. O Botafogo, tradicional campeão do torneio, perdeu para o Constante. Além disso, o goleiro do Botafogo sofreu um acidente, quando se chocou com a trave de madeira ao tentar defender um gol. O rapaz levou um corte no queixo. O Lá Vai Bola tem o maior número de estrelas do futebol de praia: Jorge Zen, Carlinhos, Caô, Batata, Bruninho. Mesmo assim o time perdeu para o Ouro Preto, de Rogério e Cláudio. Depois do jogo, no bar do Lá Vai Bola a depressão era geral. Incrível como uma derrota numa partida de futebol pode arrasar um sujeito. Enquanto isso, no bar do Ouro Preto a festa foi até as quatro da manhã. O torneio dura até fevereiro.


Fluminense classificado! Essa foi a melhor noticia do fim de semana. Eu estava assistindo aos minutos finais do jogo Constante 3 x 2 Botafogo, quando ouvi uma gritaria no calçadão de Copacabana. Yuri, o principal atacante do Copagalo veio correndo em nossa direção gritando: “O Fluminense foi classificado!” O seu rosto era a expressão da felicidade. “Agora eu vou jogar com garra!” E entrou em campo cheio de inspiração para defender as cores do seu time. Adoro futebol!

13.11.02







O Canto da Sereia, de Nelson Motta, é o livro que estou lendo. É uma história fantástica com intrigas, sexo, política e ambição nos bastidores do mundo milionário da música baiana. Ontem, no lançamento do livro, Nelsinho parecia muito feliz. No meu exemplar ele escreveu com uma caneta de tinta prateada: Para Waldir, viva a Bahia! Beijo carinhoso do Nelson. Já estou no décimo terceiro capítulo.


Antes de mais nada é preciso dizer que o livro está muito bem impresso e tem um design gráfico todo especial. Várias páginas do livro são pretas. Inclusive as primeiras páginas de cada capítulo. O resultado gráfico é fantástico. Luiz Stein está de parabéns.


Na festa de lançamento, no restaurante ZERO ZERO, estava presente a adorável família do Nelsinho. Os pais Dr. Nelson e dona Cecília. As irmãs Graça e Maria Cecília. E Joana, Bob, Tati, Antônio. A jornalista Patrícia Andrade, linda com uma blusa vermelha de inspiração japonesa. Um DJ ótimo comandava um som. O bonitão Diogo Gonçalves, agente literário do escritor, cuidava para que tudo saísse perfeito. Um monte de gente bacana apareceu por lá. Euclydes Marinho. Leonardo Neto. Ezequiel Neves. Don Pepe. Patrícia Travassos. Helen Lorenzo. Regina Case. Fernanda Abreu. Xuxa Lopes. Luiza Mariani. João Camargo. A atriz Mariana Ximenes, muito simpática.


Mas, a melhor coisa da festa de lançamento do livro foi ter encontrado meu velho amigo Avelar Love, que eu não via há muito tempo. Avelar Love é um dos integrantes do conjunto João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, a minha banda favorita do rock Brasil. Conversamos bastante e eu fiquei muito feliz em vê-lo. Ele me contou que os outros integrantes da banda desistiram do show business para se dedicar a família e aos negócios. Mas que ele continua na carreira artística. Contou do seu trabalho na peça South Américan Way, onde interpreta um dos namorados de Carmen Miranda. Avelar me disse que está ensaiando uma nova peça musical e me convidou para assistir aos ensaios. Foi muito bom vê-lo novamente e relembrar os bons tempos do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados.
The Ragpicker´s Dream é o novo CD do Mark Knopfler, que não para de tocar no meu computador. Mark Knopfler, a voz e a guitarra do Dire Straits, lançou um disco de blues com uma deliciosa inspiração roqueira. São canções suaves que parecem ter sido compostas com o propósito de seduzir o ouvinte. Para isso as canções se utilizam de acordes que exalam música como se exalassem sabor, perfume e cor.


Red Trail, de Oscar Bluemner
Onde será que o BLOG vai parar? Essa pergunta me persegue sempre que navego na internet em busca de novos blogs. Cada vez mais descubro coisas, aprendo mais, fico mais sabido... Acho que o BLOG nos permite conhecer melhor a alma humana. As pessoas revelam muito de sua alma quando escrevem, mesmo que nem sempre se dêem conta disto. E o BLOG deu um upgrade na exposição da palavra escrita. Democratizou o texto. Agora qualquer um pode dar a sua opinião escrita. Sem precisar da figura ditatorial do editor, como nos jornais ou nos livros. Existe uma verdade na literatura publicada nos BLOGS, onde o autor é o próprio editor.


Eu sempre gostei de ler e tenho um prazer quase erótico em saborear um texto bem escrito. Eu gosto quando o autor me envolve e me surpreende com o seu jeito de escrever. Eu sei reconhecer e admirar um texto escrito com verdade e maestria. Neste aspecto eu tenho me divertido muito visitando os BLOGS, pois tenho descoberto uma nova raça de escritores, que se dedicam a injetar conteúdo no mundo moderno através da literatura on line.


Outros blogs se expressam através de fotos ou ilustrações, mantendo uma comunicação diferenciada com o seu leitor. O fato é que um mundo mágico se descortina através da internet.
Minha mais recente descoberta é o blog A Verdade é o Sexo . O autor possui um texto denso e culto, com uma sofisticada dosagem de perversão. Já o Suruba Digital é um blog erótico, com um texto divertido e inteligente, ilustrado com fotos pra lá de provocantes. O Eletrozeitgest tem um humor ácido e feroz que me diverte muito. Homem Que Ama Homens narra as peripécias eróticas do autor do blog com muito humor e uma curiosa e ácida observação do comportamento humano. Teu Safado tem fotos bem ousadas de homens testando seus limites sexuais. Base Militar 447 é dedicado aqueles que sentem fascínio e desejo por militares. É um blog hilário. O Diário Secreto de Aline Fagundes é uma maravilha erótica e literária.

10.11.02

Adoro Elton John e todas as suas músicas. Do seu repertório, uma das músicas que mais gosto é I don´t wanna go on with you like that. Sempre gostei do ritmo e do suingue da música, além da letra que para mim sempre foi uma demolidora história sobre o fim de um caso de amor. Pois bem. Em recente entrevista, ao falar sobre o seu envolvimento com drogas, Elton John declarou que a letra da música, escrita por Bernie Taupin, foi feita depois que o seu parceiro leu uma carta que o cantor escreveu para a cocaína, como se ela fosse uma pessoa. No auge de sua crise com as drogas, Elton John se internou numa clínica de desintoxicação nos Estados Unidos. O astro pop estava tão envolvido com as drogas, tão louco e fissurado, que para começar o tratamento os médicos sugeriram que ele escrevesse uma carta para a própria cocaína, acabando com o caso que havia entre eles. Bernie Taupin leu a carta e ficou impressionado: “Como é que você não consegue escrever as letras para suas músicas, mas consegue escrever uma carta como essa?” Foi a partir dessa carta que surgiu a letra de um dos maiores sucessos do cantor.


I Don't Wanna Go On With You Like That


Music by Elton John
Lyrics by Bernie Taupin


I've always said that one's enough to love
Now I hear you're bragging one is not enough
Something tells me you're not satisfied
You got plans to make me one of four or five

I guess this kind of thing's just in your blood
But you won't catch me carving up my love
I ain't no puzzle piece that needs to fit
If it takes more than me let's call it quits

`Cause I don't wanna go on with you like that
Don't wanna be a feather in your cap
I just wanna tell you honey I ain't mad
But I don't wanna go on with you like that

It gets so hard sometimes to understand
This vicious circle's getting out of hand
Don't need an extra eye to see
That the fire spreads faster in a breeze

And I don't wanna go on with you like that
Don't wanna be a feather in your cap
I just wanna tell you honey I ain't mad
But I don't wanna go on with you like that
No I don't wanna go on with you like that
One more set of boots on your welcome mat
You'll just have to quit them if you want me back
`Cause I don't wanna go on with you like that

Oh if you wanna spread it around sister that's just fine
But I don't want no second hand feeding me lines
If you wanna hold someone in the middle of the night
Call out the guards, turn out the light

“Sou bicha porque quero!” - Excelente o filme Madame Satã. Fazia tempo que um filme brasileiro não me empolgava tanto. O roteiro bem desenvolvido. Uma direção inteligente e bem resolvida. E um ator fantástico. Esses ingredientes, misturados na medida certa resultaram num filme mágico e encantador. Lázaro Ramos, o ator protagonista, é uma agradável surpresa. Ele tem postura, personalidade, um olhar intenso e uma voz que envolve o espectador. Seu leve sotaque baiano é muito charmoso. E sua expressão corporal diz tanto sobre o personagem quanto sua voz ou os diálogos do filme. Madame Satã funciona como uma mini biografia de um personagem da cultura brasileira. Mas também funciona como um libelo sobre o preconceito aos homossexuais.


Madame Satã é um malandro típico da Lapa dos anos 30/40, que vive da malandragem e de pequenos golpes. Acrescente-se a isso o fato dele ser negro e homossexual. Para sobreviver a esse contingente ele precisa, antes de qualquer coisa, ser um forte, um valente. O personagem vive sendo humilhado por ser negro e homossexual. E ele combate a violência desses preconceitos com agressividade e mais violência.


Como toda bicha que se preza, Madame Satã sonha em ser uma estrela. Por isso trabalha como camareiro de uma cantora de boate. Apaixonado por Josephine Baker, sonha em um dia fazer seu próprio show. Quando consegue se apresentar cantando num bar da Lapa torna-se a bicha mais feliz do mundo. Mas um boêmio machão embriagado resolve estragar sua felicidade humilhando-o por ser homossexual. Dando-lhe porrada e chamando-o de veado, com aquele nojento tom de desprezo que os pretensos machões se utilizam quando querem humilhar as bichas. É nesse momento que Madame Satã realiza a grande fantasia de todos os homossexuais do planeta. Depois de ser espancado e humilhado ele vai até sua casa, pega um revolver e enche o machão de bala. Não sem antes gritar para o machão a frase símbolo deste filme: “Sou bicha porque quero!” Madame Satã é um filme que merece ser aplaudido de pé.

5.11.02



VEJA A FOTO E LEIA A POESIA * A beleza definitiva de BRIAN BOSWORTH especialmente para ilustrar o poema ÁGUA PERRIER de Antonio Cicero .

Não quero mudar você
nem mostrar novos mundos
pois eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês.

Adoro esse olhar blasé
que não só já viu quase tudo
mas acha tudo tão déjà vu mesmo antes de ver.

Só proponho
alimentar seu tédio.
Para tanto, exponho
a minha admiração.
Você em troca cede o
seu olhar sem sonhos
à minha contemplação:

Adoro, sei lá por que,
esse olhar
meio escudo
que em vez de meu álcool forte pede água Perrier.


4.11.02



Mahone Bay, de William Glackens

DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO - O primeiro domingo com horário de verão foi em grande estilo. O sol brilhou majestoso durante todo o dia. A cidade com eventos para todos os gostos. Na praia de Ipanema, em frente ao Country, o super modelo Walter Rosa me diz que gostaria de fazer uma peça musical, inspirada no disco A Tábua de Esmeraldas, de Jorge Ben. Lui Mendes me conta que o diretor André Matos está preparando uma nova montagem do espetáculo O Ateneu, que o saudoso diretor Carlos Wilson criou a partir do livro de Raul Pompéia. Os deuses do teatro pareciam estar ao meu lado neste dia. No fim da tarde, voltando para casa, encontro com o ator Marcos Palmeira ainda na praia. Lindo, bronzeado, óculos escuros, camisa sem manga e um grosso colar artesanal em volta do pescoço. Parecia um havaiano de Hollywood. Como sempre Marquinhos foi muito simpático e gentil, e me convidou para ir assistir a peça Mais Uma Vez Amor em que ele atua ao lado de Luana Piovani. Mais uma Vez Amor é uma grata surpresa. É um espetáculo divertido e bem humorado. Marcos e Luana interpretam um casal apaixonado cujo romance começa na adolescência e os acompanha até a velhice, sem que eles nunca fiquem juntos. A direção é caprichada e tem uns efeitos especiais bem legais.

Assistir ao filme Fale com ela de Pedro Almodóvar é uma experiência de vida. Tantas vezes o cinema já contou histórias de amor e, de repente, o diretor espanhol nos surpreende com uma história tão original quanto comovente. Além do conteúdo do romance o filme nos contagia pela forma como a história é contada. As imagens são de uma beleza mágica. Tudo que envolve o filme é cercado por uma aura de grande arte. É tudo artisticamente sofisticado. Como se o diretor fizesse questão de oferecer o melhor ao seu público. Um gentleman, esse Almodóvar.


O primeiro filme do Almodóvar que eu assisti foi O Matador, no extinto FestRio, o antigo festival de cinema do Rio de Janeiro. O Matador participou da competição, ao lado de filmes como Minha Adorável Lavanderia e Morte no Inverno. Desde o primeiro minuto eu fiquei impressionado com o filme policial, ambientado numa Madrid cheia de mistério e magia. Um roteiro inteligente e sofisticado, filmado com imagens de sugestiva beleza plástica. Na platéia não havia mais do que uma dezena de pessoas e o filme passou praticamente despercebido. Depois da sessão um ainda desconhecido Pedro Almodóvar subiu ao palco para receber flores da organização do festival. Depois ele ficou circulando pelo saguão do Hotel Nacional, completamente ignorado por todos. Ninguém imaginava que um dia aquele espanhol ia ser considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos.


O FestRio em que foi exibido O Matador, foi um festival inesquecível. Além de O Matador, Minha Adorável Lavanderia e Morte no Inverno o festival exibiu filmes como Breathless, com Richard Gere e Valerie Kapriskie; De Repente Num Domingo, o último de François Trauffaut; A Mulher Pública, também com Valerie Kapriskie. Além de clássicos como The Wind.


Eu assistia aos filmes da competição no Hotel Nacional, onde era a sede do festival. No saguão do hotel a badalação corria solta. A imprensa nacional e estrangeira, artistas locais e fãs de cinema em geral circulavam com grande excitação por todos os lados. Várias estrelas internacionais marcaram presença. Richard Gere veio promover o lançamento de Breathless e se encontrou com a heroína do seu filme, Valerie Kapriskie, que tinha vindo badalar o lançamento do francês A Mulher Pública. Também estavam presentes Win Wenders, Jim McBride, Ellen Bursten, Fanny Ardant, Dominique Sanda. E tinha também Sonia Braga na comissão julgadora.


Todos os dias eu ia para o Hotel Nacional onde encontrava o diretor de teatro Ruiz Bellenda, cinéfilo como eu, e trocávamos figurinhas sobre o festival. Comentávamos os filmes, os atores, as fofocas, falávamos das festas e dos coquetéis. Certa vez eu encontrei com ele às gargalhadas no bar da piscina. Perguntei do que ele tanto ria e ele me disse que tinha visto a coisa mais engraçada da sua vida: “Eu vi a Marilena Coury pedindo um autografo para o Richard Gere e ele simplesmente recusou. Não quis dar o autografo para ela. Não é o máximo?” E caiu na risada.


Eu e o Ruiz fizemos uma grande dupla neste FestRio. Eu me lembro de ter me divertido muito com o seu humor e o seu senso crítico. Ficávamos loucos quando víamos a Dominique Sanda. Ela estava linda. Com aquele seu ar aristocrata e superior. Tão bonita quanto em filmes como O Conformista e Novecento. Só de lembrar que um dia eu estive frente-a-frente com Dominique Sanda acho que já valeu a pena ter vivido. Para mim a atuação dela em O Conformista, de Bernardo Bertolucci, é uma das coisas belas que as telas do cinema já mostrou.


Uma das personalidades mais presentes neste festival foi a diretora de cinema paulista Anna Muylaert. Na época ela era pouco mais que uma menina. Linda, gostosa, chique, situada. Anna também era louca por cinema e tinha trazido para o Rio o roteiro de um filme chamado Carmen Zoom, a história de um travesti sob a ótica de uma mulher, que ela queria dirigir com a Roberta Close no papel principal. O roteiro era muito interessante e, na época, Roberta Close estava no auge da popularidade. Um dia, num coquetel realizado no bar do hotel, eu encontrei Antonio Calmon cheio de uísque e ele me segredou: “Sabe qual é a maior fofoca do festival? Anna Muylaert passou a noite no quarto do Win Wenders, dando para ele.” Cinema é a Maior Diversão.

3.11.02



Segovia Girl de Robert Henri

LA WEEKLY , o meu favorito magazine americano, publicou artigo sobre o último filme de Brian de Palma Femme Fatale. Segundo a jornalista Amy Taubin Femme Fatale é o melhor filme do diretor desde Carrie, a Estranha. Senti um frio na espinha só de pensar na possibilidade de assistir um filme do Brian de Palma dos velhos tempos.

Madonna vem aí...

 

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